A quadra natalícia é, hoje em dia, pelo menos no mundo cristão, uma das que marcam mais profundamente a vida social e familiar. De facto, é esta a quadra em que as famílias procuram reunir-se, em que os amigos permutam saudações, em que os mais abastados se recordam dos que nada têm, em que as pequenas prendas simbolizam uma fraternidade que todos desejavam que se prolongasse pelo ano inteiro.
Não pode ignorar-se, porém, que esta quadra assenta numa base essencialmente religiosa. Com efeito, a festa de Natal, mais que o facto histórico do nascimento de Jesus Cristo – cuja data, aliás, se ignora – celebra sobretudo o mistério da vinda ao mundo do Verbo Divino feito homem. Neste sentido, o Natal da Igreja romana tem muita semelhança com a Epifania (festa da aparição ou da manifestação do Filho de Deus) que, desde o século IV, as igrejas orientais celebram a 6 de Janeiro.
Em Roma, centro do cristianismo, a primeira referência escrita à celebração do Natal do Senhor remonta ao ano de 336. A data adoptada de 25 de Dezembro relaciona-se com uma outra, a da Encarnação, que, desde o século III, considerações astronómica-simbólicas levavam a fixar em 25 de Março (equinócio da Primavera, no calendário juliano). Por outro lado, o dia 25 de Dezembro (solstício de Inverno, no mesmo calendário) era, em Roma, desde o tempo do imperador Aureliano (274) consagrado ao Natalis Solis Invicti, uma festa romana que celebrava o «renascimento» do Sol. Este facto levaria, naturalmente, a Igreja romana a contrapor-lhe a festa cristã do Natal de Jesus, o verdadeiro «Sol da Justiça». A celebração romana depressa se estendeu a todo o Ocidente, não tardando também a ser inserida nos calendários litúrgi-cos de quase todas as Igrejas orientais.
Para além da celebração litúrgica, a partir da Idade Média, a piedade cristã começou a representar artisticamente o nascimento de Cristo. De facto, os presépios, constituídos por figuras esculpidas, têm a sua origem remota na reconstituição feita, em 1223, por S. Francisco de Assis, na aldeia de Greccio. O santo poverello mandou preparar uma manjedoura cheia de feno e, além das figuras do Menino, de Maria e de José, pediu que se colocassem perto um boi e um jumento. Neste Cenário celebrou-se a missa de Natal. A descrição deste facto, feita pelo primeiro biógrafo de S. Francisco, deu origem a numerosas representações esculpidas em Itália e no sul de França, donde passaram a outras regiões e, natural-mente, a Portugal. No século XVIII alastrou, entre nós, o hábito de armar, nas salas das habitações familiares, presépios com figuras de barro ou de madeira. Conhecidos são, sobretudo, os dos escultores Machado de Castro e António Ferreira, alguns deles com centenas de figuras. Coimbra, Lisboa, Viseu, Estremoz, Aveiro e Buçaco possuem presépios destes autores, de grande valor artístico. Outros escultores, mesmo alguns nossos contemporâneos, legaram-nos presépios de inegável valia. Recorde-se, apenas a título de exemplo, a monumental representação do conimbricense Cabral Antunes que, durante muitos anos, foi colocada em frente das igrejas de Santa Cruz, e de S.Tiago, em Coimbra, e por incúria dos responsáveis pela sua manutenção, perdeu a autenticidade das imagens esculpidas pelo Mestre.
Também na pintura e, mais recentemente, na medalhística, se contam numerosas obras de arte sobre o Natal de Cristo. A presente medalha, editada pela Medalhística Lusatenas â, pretende ser um elo mais nessa tradição, tão cara aos artistas de Coimbra, e, ao mesmo tempo, levar a todos a mensagem de fraternidade e de paz que o Natal continua a despertar no coração dos homens de boa vontade.
texto de:
Doutor A. Jesus Ramos
Professor de História da Igreja
Medalha em Bronze, biface, módulo 90 mm
Esc. Jorge Coelho
Magnífica medalha em bronze com o diâmetro de 90mm - Preço: €18,50 (inclui os portes para Portugal Continental)
Escultura de Mestre Jorge Coelho