RAINHA SANTA ISABEL
D.ISABEL DE PORTUGAL, RAINHA SANTA, AO ENCONTRO DA CIDADE
Dos aposentos reais do Monte da Esperança desceis, senhora, ao encontro da gente boa e simples que, ainda hoje, conserva um lugar de especial predilecção e desvelo no vosso coração – a vossa gente, o vosso povo de Coimbra! É ele que, uma vez mais, enche por completo este vasto e renovado Largo da Portagem para, com o entusiasmo e o reconhecimento de sempre, vos dizer que, hoje como há sete séculos, sois a rainha que veneramos não apenas como soberana exemplar, mas sobretudo como mestra da vida, como mãe e como padroeira incontestável de cada conimbricense.
É por este povo modesto e bom que ouso erguer a minha voz para vos saudar e para, em nome de todos, vos garantir que esta cidade vos pertence, se não fora a outro título, pela razão de ser vosso o coração de cada um dos cidadãos que aqui vivem, estudam e trabalham.
Vinde, senhora, no andar cadenciado e majestoso da rainha, ao encontro deste povo que, ansiosa-mente, espera que no vosso regaço de mãe se repita hoje a maravilha do ouro que se transforma em rosas, e das rosas que, distribuídas pelas vossas mãos, se transformam em pão, em ternura e amor fraterno.
Entrai senhora! Como outrora, os pobres esperam pela vossa visita consoladora, pois hoje como sempre há chagas purulentas que, para sararem, necessitam do beijo de uma santa verdadeira; há dores escondidas que precisam do bálsamo de uma mão amiga; há feridas abertas a que só o unguento de uma bênção celestial servirá de remédio.
Encontreis, senhora, muitas mãos que se estendem, na esperança de uma pétala ao menos, das muitas que milagrosamente se desprendem do vosso regaço, caia de manso nos seus dedos trémulos e transforme, em nome da dignidade humana as condições da sua vida. Encontreis, senhora (custoso é dizê-lo, mas a verdade o exige) muitos pobres, ainda, sem terem ao menos um abrigo onde pernoitar nas longas e penosas noites de invernia. A cidade cresceu, transformou-se, está mais bonita! Têm-se aberto avenidas novas, têm-se erguido torres um pouco por todo o lado, têm-se construído hotéis espaçosos e confortáveis, mas o albergue há tanto sonhado para os sem eira nem beira continua na gaveta das boas intenções, à espera da mão preciosa de alguém que, como vós, ensine aos influentes e poderosos do nosso tempo que só é verdadeiramente grande aquele que faz da sua vida um permanente gesto de partilha.
É provável, senhora, que, visitando os pobres da baixa, como é vosso evangélico costume, encontreis muitos a viver ainda em espaços que de casas apenas conservam o nome, pois não têm qualquer instalação higiénica, nem água, nem uma janela por onde entre o ar fresco e saudável da manhã. É provável, senhora, que encontreis idosos que, mais que a doença, temem e sofrem esse mal novo, próprio dos nossos dias e das nossas cidades – a solidão! É provável, senhora, que encontreis chagas sociais abertas que, mais ou menos conscientemente, vamos ignorando para podermos dormir descansados e aparente-mente felizes. É provável que encontreis lázaros, chagados a precisarem de um samaritano, de muitos samaritanos que não passem ao lado, mas se debrucem sobre os prostrados nos passeios e nas bermas dos caminhos, lhes limpem as feridas e, dando-lhes a mão, os façam sentir de novo o dom grande e saboroso da vida.
Entrai, senhora! Que o vosso exemplo de amor verdadeiro e concreto (só é verdadeiro e concreto o amor que desabrocha e cresce no silêncio da alma de cada homem) fale a cada um de nós. Que a vossa visita sirva para que todos entendamos que se vós sois a padroeira de Coimbra, se sois dona e senhora do coração dos filhos desta terra, não é pelo facto de aqui terdes habitado, em tempos idos, um palácio digno da vossa realeza; é antes pela razão simples de, vezes sem conta, terdes percorrido as ruelas tortuosas do velho burgo a sarar feridas, a afagar a cabeça dos meninos da rua, a repartir, por todos, as pétalas perfumadas que se desprendem do vosso regaço e que são para uns o pão, para outros o alívio, para estes o conforto, para aqueles a esperança e para todos a certeza de que em Coimbra, mais que uma rainha, vive uma Mulher que, à maneira de Jesus de Nazaré, vai passando a distribuir amor, a construir a paz e a fazer o bem…
Entrai, senhora! Hoje como ontem
o vosso donaire a todos encanta.
Sede bem-vinda ao meio do vosso povo
Excelsa padroeira, Rainha Santa!
A.Jesus Ramos
Professor de História da Igreja no
Instituto Superior de Teologia de Coimbra
(alocução de saudação à Rainha Santa Isabel na entrada da sua imagem na cidade)
Medalha em bronze com o diâmetro de 90mm - Preço: €18,50 (inclui os portes para Portugal Continental)